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O PARAÍSO PERDIDO

Se sonha com umas férias numa ilha tropical, à sombra dos coqueiros, saboreando tranquilamente um «cocktail» de sumo de frutos tropicais, S. Tomé e Príncipe não será propriamente o destino ideal. Se, pelo contrário, gosta de umas férias de aventura, de partir à descoberta de praias desertas e da selva tropical, do contacto com as populações locais e, sobretudo, de África, vai ficar maravilhado com este paraíso perdido no meio do Golfo da Guiné, mesmo em cima da linha do equador.

Texto e fotos: Alexandre Coutinho

Longe dos principais fluxos turísticos e empobrecido por uma excessiva dependência da cultura do cacau (cujo preço já viu melhores dias e enfrenta, hoje, a concorrência de maiores produtores), S. Tomé e Príncipe conserva ainda intactas todas as suas potencialidades. Nos últimos anos, multiplicou-se o número de unidades hoteleiras e existem projectos para a construção de novos empreendimentos. Além de alguns europeus, o alvo preferencial são os sul-africanos, sobretudo, os amantes da caça submarina e da pesca grossa em alto mar. As águas de S. Tomé fervilham de peixe e marisco e são o domínio privilegiado do atum, dos golfinhos, dos espadartes, da barracuda gigante, do «Blue Marlin» e todos os seus primos, inclusive, do tubarão.

E, para além das pescarias, o que tem S. Tomé e Príncipe para oferecer aos visitantes?

Foto: Praia Banana Um clima ameno ao longo de todo o ano, apenas um pouco mais quente nos meses de Verão no hemisfério Sul (Dezembro a Fevereiro); uma população hospitaleira, que o acolherá de braços abertos; praias desertas de areia branca, rodeadas de coqueiros que vão até à beira mar; paisagens deslumbrantes no interior da ilha, com cascatas, vegetação luxuriante e, até, selvas impenetráveis, onde reinam macacos, papagaios e as terríveis cobras pretas (cuja mordedura é venenosa).

A menos que opte por levar o seu jipe de barco até S. Tomé, terá de contentar-se em alugar um 4X4 localmente, numa das agências que trabalham em estreita ligação com os hotéis ou, se preferir, directamente junto de um dos muitos particulares que põem as suas viaturas ao serviço dos turístas como forma de ganhar alguns dólares. Além dos bens a que terão acesso, as célebres notas verdes permitem-lhes comprar gasolina no mercado negro, não os limitando aos racionamento existentes.

Como não há seguros, o único risco que terá de assumir é o de pagar as despesas em caso de acidente. Mas quando se aperceber do estado de conservação da maioria das estradas fora da cidade, chegará rapidamente à conclusão que dificilmente será multado por excesso de velocidade...

 

S. Tomé - Neves - Stª. Catarina


Ao volante de um todo-o-terreno, tem uma ilha inteira para descobrir. Entre muitos percursos possíveis, recomendo especialmente, a estrada que segue da cidade de S. Tomé, para Norte, pela costa. Logo à saída, disfrute de uma bela panorâmica da Baia de Ana Chaves. Passe pela Praia Lagarto (onde se situa o Marlin Beach Resort) e pelo aeroporto, tendo sempre à vista, o Ilhéu das Cabras (que poderá visitar, mais tarde, de piroga).

Foto: Lagoa Azul Antes de chegar à Roça Fernão Dias, pare para dar um mergulho numa das muitas enseadas que ficam junto à Praia do Governador, ou guarde o fato de banho para descansar na Praia dos Tamarindos, seguramente, a melhor do Norte da Ilha. Aqui, a estrada faz um incursão para o interior, até à aldeia de Guadalupe, mas regressa depois à linha costeira, junto à Praia das Conchas. Antes de chegar a Neves (a segunda cidade mais importante de S. Tomé, mas não se iluda), passará ainda pela Lagoa Azul, onde as águas oferecem uns cambiantes de azul e verde verdadeiramente estonteantes e muitas outras praias, mais ou menos inacessíveis por terra.

Se quiser prosseguir este percurso, poderá fazê-lo até Stª. Catarina, uma simpática aldeia de pescadores. Pelo caminho, em Anambó, poderá visitar o padrão que assinala o local onde desembarcaram, em 1470, os primeiros descobridores portugueses, João de Santarém e Pêro Escobar.

Não me aventurei para lá de Stª. Catarina, porque, de acordo com informações locais, a estrada que outrora possibilitava o périplo completo da ilha está hoje completamente intransitável, tendo, inclusive, perdido as pontes que permitiam atravessar alguns rios.

 

S. Tomé - Água Izé - Micondó


Desta vez, viaje até à paradisíaca praia de Micondó. Saia da cidade de S.Tomé em direcção ao Sul, passando pelo bairro de pescadores do Pantufo, tome um primeiro banho de mar na Praia Pombas e atravesse a vila de Santana (uma das mais populosas da ilha).

Foto: A Praia de Micondó Um pouco mais à frente chegará à Boca do Inferno, onde o mar é soprado por uma abertura nas rochas e à Roça de Água Izé. Até há poucos anos, era considerada um exemplo modelo de cooperação luso-sãotomense. A partir daqui a estrada piora sensivelmente, mas acabará por passar pela aldeia de Ribeira Afonso e alcançar a Roça de Micondó (não deixe de visitar os edifícios no mais puro estilo colonial).

Desça depois até à praia, uma enseada de águas tranquilas, rodeada por uma densa vegetação de coqueiros.

 

S. Tomé - Roça Bombaim


Esta incursão até à roça Bombaim, uma das explorações agrícolas do centro da ilha, tem por objectivo degustar uns gomos de mangustão (um fruto duro do qual não se come a polpa, mas apenas uns gomos brancos em torno do seu caroço). As únicas árvores deste fruto existentes na ilha estão nesta roça.

Calcule que o clima até é propício ao cultivo de morangos! Aconselho-o vivamente a contratar um guia local para lhe indicar a melhor das muitos estradas de terra que atravessam a região e que se apresentam, geralmente, muito enlameadas e cortadas por diversos cursos de água. Cuidado para não atascar ou ficar «assente» nestes trilhos.

Muitas outras antigas roças coloniais merecem uma visita. É o caso da Roça, Agostinho Neto, provavelmente, a maior e mais bem conservada ou da Roça Monte Café (administrada pelo Grupo Espírito Santo), a única produtora de café da ilha.

Foto: Cascata de S. Nicolau Não perca a cascata de S. Nicolau, que se despenha de vários metros de altura, numa zona de bosque temperado do interior da ilha, onde apenas uma ou outra árvore tropical denuncia que estamos em África e não em qualquer floresta do centro da Europa.

Se considerar a hipótese de organizar uma expedição de dois ou três dias, prolongue o segundo percurso (S. Tomé — Micondó) até ao extremo Sul da ilha: Porto Alegre, passando por Angolares, a vila de pescadores com maior tradição em S. Tomé. Em Porto Alegre, poderá ir de barco até ao Ilhéu das Rolas, onde passa a linha do Equador e pôr um pé em cada hemisfério.

 

A surpresa das crianças


Como em quase todos os países africanos, as crianças são o melhor de S. Tomé. Tire-lhes fotografias. Vai ficar surpreendido com o seu contentamento esfuziante. Observe bem os seus brinquedos, de um simples aro e cana ou carrinhos feitos com latas velhas e arame, às réplicas de motorizadas todas feitas em madeira, mas que não passam de umas simples «trotinettes».

 

Leve uns quantos pacotes de rebuçados e bolachas na bagagem a pensar nas crianças, que não se cansarão de lhe pedir «doce, doce...». Em todas as aldeias, não tardarão em acorrer às dezenas, mal uma delas se apercebe da chegada do jipe e dos seus «preciosos» passageiros. «Brancaaaaa... Brancaaaaa... Branca é!», gritam todos em coro se avistarem uma senhora na viatura. Nas aldeias mais recônditas da ilha, a presença de brancos, sobretudo, de uma mulher é um acontecimento.

Todos procuram tocar-lhe nas mãos, nos braços ou nos cabelos. Para distribuir rebuçados, o truque é atravessar primeiro a aldeia e só oferecê-los à saída. «Tchaué!», é o aceno de despedida. Se for a uma praia, não se admire se ser seguido por um bando de míudos desejosos de vê-lo em fato de banho. Lembre-se que eles não têm televisão e não é todos os dias que podem assistir a um episódio de «Marés Vivas» («Baywatch») em directo!
 
 

    

 

Foto: Subida de Coqueiros Desafie-os para subir aos coqueiros e apanhar alguns cocos. Ficará admirado com a sua destreza e agilidade. Em poucos minutos e a troco de algumas Dobras e umas canetas, terá mais cocos do que precisa para saciar a sua sede. Já que está na praia, um conselho: Não estenda a toalha debaixo de um coqueiro, porque, de vez em quando, lá vem um coco...

Pergunte a um sãotomense, «como vai a vida?», ao que ele, sempre bem educado, responder-lhe-à com um invariável «leve, leve», a expressão que melhor traduz o estado de espírito deste povo africano que, não sendo possuidor de riquezas, tem a felicidade de viver num país onde tudo cresce com uma fertilidade espantosa (bananas, fruta pão, matabala, canja-manga, abacaxi, abacate, jaca, papaia, safu, cola e o famoso mangustão).

Para quem já esteve num mercado típicamente africano, uma visita aos mercados da cidade de S. Tomé poderá revelar-se algo decepcionante, pela pouca diversidade e colorido dos produtos expostos. Repare como os tomates e os dentes de alho são vendidos por lotes de quatro ou cinco; o esparguete em pequenas doses; e as bolachas, rebuçados e cigarros, à unidade.

 

Nos estabelecimentos também não encontrará grande variedade de artigos, mas não se surpreenda se as montras de duas ou três lojas de peças mecânicas e acessórios para automóveis ainda ostentarem diversas grelhas dianteiras de camiões Toyota. Contaram-me que, há cerca de dez anos, o homem encarregue de comprar sobresselentes para estes camiões comprou a mesma quantidade de todas as peças que tinha na lista. Forçosamente, tinham de sobrar as menos procuradas...
 

 

Um passeio na capital só ficará completo com uma visita à fortaleza de S. Sebastião, construída pelos portugueses no século XVII e hoje transformada em Museu Nacional. No terraço, acumulam-se as estátuas desmembradas dos navegadores portugueses, retiradas das praças e jardins de S. Tomé logo após a independência do país.

A Ilha do Príncipe


Esta pequena ilha situada ao Norte de S. Tomé não tem, infelizmente, muito mais a oferecer do que a sua companheira de arquipélago. Merece uma visita de um dia ou dois e só os mais estóicos viajantes encontrarão aqui motivos para permanecer mais tempo (à excepção dos turistas alojados no complexo de «bungalows» do Ilhéu Bombom, gerido por sul-africanos e com estadias pagas a peso de ouro).

Os edifícios da vila de Stº. António encontram-se em acelerado estado de degradação, a luz eléctrica falta com frequência, o alojamento limita-se à Pensão Palhota e a dois restaurantes onde convém marcar com alguma antecedência. Não pela eventual falta de mesa, mas pela ausência de comida.

 

 

As limitações estendem-se à falta de viaturas para alugar e à quase total ausência de estradas para percorrer a ilha (entretanto, reconquistadas pela selva). Destaque, mesmo assim, para a praia Banana, o miradouro da roça Belo Monte e a praia Évora. A única forma de dar a volta à ilha, é de piroga!

Até o paraíso não está isento de espinhos. Em S. Tomé e Príncipe, os espinhos voam e andam sob a forma de múltiplos insectos (melgas, mosquitos, moscas, moscardos, formigas e centopeias, só para falar dos mais conhecidos...).

Antes de fazerem as delícias dos biólogos e coleccionadores de insectos, estes simpáticos invertebrados farão dos seus braços e pernas autênticas pistas de aterragem. Cuidado, especialmente, ao nascer e ao pôr do sol, troque os calções por umas calças e a T-shirt por uma camisa leve com mangas. À noite, ao sair do jipe, olhe para onde põe os pés, não vá pisar um caranguejo de terra (idênticos aos de mar, mas um pouco maiores e perfeitamente adaptados à vida terrestre. Só saem com a frescura da noite, abrigando-se em buracos junto dos coqueiros para escapar ao calor e ao sol).

Mapa da Ilha do Príncipe Não se esqueça de pôr repelente e de prosseguir a medicação à base de quinino que o seu médido lhe recomendou antes de partir (começe a tomar os comprimidos duas semanas antes e prolongue o tratamento duas semanas após o regresso). Só assim poderá precaver-se convenientemente dos dissabores de uma crise de paludismo. A vacina contra a febre amarela é, igualmente, obrigatória.

Uma vez na ilha, abstenha-se de comer fruta com casca, qualquer tipo de salada ou legumes crus, ovos e produtos lácteos locais. Beba somente água e bebidas engarrafadas (experimente a água mineral Flebê, a laranjada e as cervejas Rosema) e evite os cubos de gelo. Em S. Tomé como em muitos outros países tropicais, todas as precauções são poucas para garantir uma boa estadia. Boa Viagem!


 

BLOCO NOTAS

País: República Democrática de S. Tomé e Príncipe (12/7/1975)

Área: Arquipélago constituído por duas ilhas de origem vulcânica: S. Tomé (859 km2) e Príncipe (142 km2), situadas entre 1 grau 44' de latitude Norte e 0 graus 1' de latitude Sul, e 7 graus 28' de longitude Este e 6 graus 28' de longitude Este, a cerca de 300 quilómetros da costa do Gabão, no Golfo da Guiné. A distância entre as duas ilhas é de, aproximadamente, 140 quilómetros

População: 117 mil habitantes

Capital: S. Tomé

Moeda: Dobra (câmbio médio, em 1992: 1 USdólar = 325 Dbs) e dólar norte-americano

Idiomas: Português e dialectos locais

Vacinas: Febre amarela e profilaxia da malária

Documentos: Passaporte (visto obrigatório), boletim de vacinas e seguro de viagem

Hora: GMT

Mapas:

  • Carta Topográfica da Ilha de S. Tomé - Centro de Geografia do Ultramar (1:75000), de 1961, disponível no Centro de Cartografia do Instituto de Investigação Científica Tropical, mas apenas com autorização escrita solicitada ao adido cultural da Embaixada de S. Tomé e Príncipe, em Lisboa.

    Guias:

  • S. Tomé e Príncipe — Associação Industrial Portuguesa, 1996

    Acesso: Por avião, semalmente, a partir de Lisboa (TAP) e de Luanda (TAAG); quatro vezes por semana, de Libreville, no Gabão (Air São Tomé e Príncipe); e inter-ilhas, quatro vezes por semana (Air São Tomé e Príncipe). Em S. Tomé, em veículo 4X4 por estradas fortemente degradadas, pistas em terra batida ou trilhos de montanha.

    Hotéis:

  • Hotel Miramar (****) - No centro da cidade de S. Tomé, junto à Embaixada de Portugal (104 21087)
  • Marlin Beach Resort - Entre o aeroporto e a cidade, frente à Praia - Lagarto (104 22963/4)
  • Pousada da Boa-vista - Numa encosta a cerca de 15 quilómetros da cidade (104 21304)
  • Ilhéu Bombom (*****) - Príncipe
  • Pensão Palhota - Stº. António - Príncipe (104 51060/51079)

    Restaurantes:
  • Filó-mar - Perto do Bairro do Hospital, junto à Praia Lagarto (104 21908) - Especialidades: Peixe fumo e peixe-barriga
  • Benfica - No centro da cidade - Especialidades: «Calulu» de peixe ou de galinha
  • Café Passante - Ao lado do Hotel Miramar Argentimoa - Pantufo (104 21941)
  • Passô - Stº António - Príncipe
  • Terraço de Jerusalém - Príncipe

    Clima: Equatorial, com temperaturas médias anuais que variam entre os 22 e os 30 graus centígrados. A temperatura varia em função da altitude (2024 metros no Pico de S. Tomé) e da pluviosidade, sendo característica uma forte densidade de humidade, quase sempre superior a 75 por cento. O ano caracteriza-se por duas estações: A das chuvas (Outubro a Maio), com temperaturas elevadas e trovoadas tropicais e a «Gravana» (Junho a Setembro), mais amena, mas com céu geralmente coberto.

    Equipamento indispensável: Malas de viagem com fechos (aviões) e sacos maleáveis para os percursos em 4X4; vestuário desportivo de cores claras; sapatos de ténis e botas de «trekking» ou «randonnée»; chapéu, óculos de sol, cantil, canivete suíço, lanterna (para as quebras de energia), bolsa de primeiros socorros (leve os seus próprios medicamentos), repelente para insectos, protector solar, pastilhas purificadoras de água, binóculos, máquina fotográfica (leve rolos) e câmara de vídeo. Específicamente, para os percursos de todo-o-terreno, não esqueça a carta topográfica, uma pá dobrável e uma cinta de reboque. As placas de desatascar terão de ser «fabricadas» no local...

    Código de preservação: Apesar das graves carências de desenvolvimento, S. Tomé e Príncipe é um dos últimos paraísos ecológicos da Terra. Não fume ou apague cuidadosamente todos os cigarros. Transporte todo o lixo até encontrar um recipiente próprio. Não compre artefactos proíbidos, como carapaças de tartaruga e nem pense em adquirir um papagaio ou um macaquinho. Lembre-se que as populações têm os seus próprios hábitos e costumes. Peça autorização antes de fotografá-los. Faça trocas ou retribua mediante pequenas ofertas. Ocasionalmente, não recuse dar boleia. O seu passageiro de ocasião poderá revelar-se o seu melhor guia.

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