O que é
sustentabilidade?
Célio Santiago* Neste artigo procuro apresentar uma ideia
de como se ocupar com o processo de criar novas empresas que permitam
novas formas de gerar rendas e criar novos empregos dentro do conceito
de sustentabilidade. O conceito de sustentabilidade, por ser bem menos
difundido do que o de desenvolvimento sustentável merece uma observação
mais atenta de todos às pessoas pre-ocupadas com a questão ambiental.
Intencionalmente separei com hífen a palavra preocupação pois na maioria
dos textos que tenho lido e das proposições, se tem enfatizado sobremaneira esta preocupação com o
futuro do homem, sem contudo se apresentar soluções práticas de como
resolver o problema. Assim em lugar de se preocupar com os problemas
ambientais creio que chegou a hora de começarmos a nos ocupar
activamente
na busca de soluções não apenas para o meio ambiente, mas para a
humanidade como um todo. Eis aqui outra incongruência, porquê meio
ambiente? Acaso somos meros observadores e aproveitadores (para não
dizer predadores) do mesmo? Não somos parte integrante deste todo a que
chamamos de universo? Deixando de lado estas divagações filosóficas,
gostaria de voltar à questão inicial. Com o que devemos realmente nos
ocupar face aos grandes problemas ambientais, gerados, pode-se dizer em
sua quase totalidade pela acção do homem? Podemos considerar as seguintes dimensões
de sustentabilidade: 1. Sustentabilidade social: ancorada no principio
da equidade na distribuição de renda e de bens, no principio da
igualdade de direitos a dignidade humana e no principio de solidariedade
dos laços sociais. 2. Sustentabilidade ecológica: ancorada no principio
da solidariedade com o planeta e suas riquezas e com a biosfera que o
envolve. 3. Sustentabilidade económica: avaliada a partir da
sustentabilidade social propiciada pela organização da vida material. 4.
Sustentabilidade espacial: norteada pelo alcance de uma equanimidade nas
relações inter-regionais e na distribuição populacional entre o
rural/urbano e o urbano. 5. Sustentabilidade político-institucional: que
representa um pré-requisito para a continuidade de qualquer curso de
acção a longo prazo. 6. Sustentabilidade cultural: modulada pelo respeito
à afirmação do local, do regional e do nacional, no contexto da
padronização imposta pela globalização. Todas estas dimensões são
realmente importantes, contudo, o que significam na realidade? Um estudo
patrocinado pelo Fundo Mundial para a Natureza sobre as causa básicas da
perda da biodiversidade, conclui que, "conjuntamente com outras forças,
a pobreza frequentemente desempenha um papel principal." (2) Quais são
de fato as causas da pobreza? Em artigo anterior falei de um projecto
que pretendo desenvolver, denominado Geração de Renda
e Emprego e o Desenvolvimento Sustentável. Neste projecto proponho um
programa que objective treinar pessoas interessadas em montar empresas
direccionadas para uma filosofia de Desenvolvimento Sustentável, com um
aproveitamento mais eficaz dos recursos naturais. O que significa este
projecto? Inicialmente identificar nas comunidades pessoas desempregadas
ou em subempregos que estejam interessadas em criar e desenvolver seus
próprios negócios, com a evidente possibilidade de criar empregos para
si e, no mínimo, para seus familiares. Que negócios seriam estes?
Basicamente todos aqueles que usem como matéria prima um
reaproveitamento de produtos que de outra forma estariam causando
problemas para o ambiente. Neste momento posso destacar o lixo,
considerados por seus geradores como inútil; a sucata, resultante de
resíduo sólido de industrias e assim por diante. A alternativa já
existente e em prática em inúmeros distritos são as usinas de
reciclagem de lixo. Existem, contudo, outras actividades que poderiam ser
desenvolvidas, dentro da visão de sustentabilidade social. No caso em
questão o objectivo básico é gerar actividades que gerem renda e empregos
para indivíduos ou grupos sociais. Na realidade esta simples acção
apresenta soluções para três diferentes tipos de problemas. O primeiro
citado pelo Worldwatch Institute, no livro O Estado do Mundo 2001, se
denomina pobreza. A redução do número de desempregados, a inclusão de
actores sociais no segmento de emprego (seja como empresário seja como
empregado) reduz substancialmente o nível de pobreza de uma comunidade.
O segundo é uma consequência, pois no momento em que se criam empresas
com uma visão de desenvolvimento sustentável esta se protegendo a
biodiversidade e o ambiente como um todo. O terceiro problema a ser
solucionado é o da educação ambiental. Inúmeras pessoas prejudicam o
ambiente não por má fé, mas por pura e simples ignorância. Este projecto,
ao envolver a comunidade como um todo, permitirá uma acção educacional
mais efectiva, pois as escolas, principalmente as públicas, onde se
encontram matriculadas crianças oriundas de famílias de baixa renda,
terão uma actuação de extrema importância. Considerando-se que em São
Tomé já existem muitas pessoas que vivem da colecta de latas pós-consumo as
oportunidades de negócio em termos de reciclagem são uma realidade.
Volto a enfatizar que esta na hora de cada um se ocupar na busca de
soluções para os problemas que afligem nossas comunidades. Não basta
falar da existência dos excluídos, são necessárias acções práticas para
torna-los incluídos. Este projecto, tenho certeza será uma destas acções.
Como na história do beija-flor, se cada um fizer a sua parte, problemas
tais como desemprego, poluição e desperdício terão soluções viáveis,
práticas e, principalmente sustentáveis. Fontes: (1) Consórcio CDS/UnB
- Abipti - Ciência & Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável,
Brasília, 2000, pág. 42 (2) Worldwatch Institute - Estado do Mundo 2001
- Salvador, UMA Editora, 2000, pág. 21 Volnei Alves Correa* é
economista; administrador; Mestrado em Administração pela Universidade
de Syracuse, NY, USA; Professor Universitário; Consultor Organizacional.
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